Ergonomic Workplace Analysis of the Marble Workers: I Study of Case in a Marblery of Joinville-SC/Brazil

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Palabras Clave: 
aet, ergonomics
Autor principal: 
Roger Valentim
Abdala
Coautores: 
Leila Amaral
Gontijo
Vera Lúcia do Valle
Pereira
Márcia
Loch

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC / Rua Elis Regina, 123 - Joinville/ 89212-450, Santa Catarina, Brazil

+55 47 3463-1377/roger.a@fatej.com.br

Gontijo, Leila Amaral, Dra.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC / Bairro Trindade – Florianópolis/ 88040-970, Santa Catarina – Brazil

+55 48 3721-7104/leila@eps.ufsc.br

Pereira, Vera Lúcia do Valle, Dra.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC / Bairro Trindade – Florianópolis/ 88040-970, Santa Catarina – Brazil

+55 48 3721-7104/vpereira@eps.ufsc.br

Loch, Márcia, Dra.

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção / Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC / Bairro Trindade – Florianópolis/ 88040-970, Santa Catarina – Brazil

+55 48 3721-7104/marloch@matrix.com.br

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo analisar as atividades de marmoristas através do método Análise Ergonômica do Trabalho em uma marmoraria de Joinville – SC. Utilizou-se como instrumentos de coleta de dados a observação participante, RULA, OWAS, entrevistas com trabalhadores. Verificou-se que a desorganização no trabalho afetava as atividades dos marmoristas, sendo este o principal fator à ser alvo de uma intervenção. Foi sugerido um plano de ação para adequação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Este plano de ação tomou como base a ferramenta “5W 2H”. As ações sugeridas neste plano dependem do envolvimento da gerência e dos trabalhadores.

Palavras-Chave: Ergonomia, AET, Marmoristas

INTRODUÇÃO

As atividades desenvolvidas atualmente em marmorarias podem ser consideradas como uma evolução dos trabalhos realizados desde os primórdios da humanidade, quando o homem iniciou a utilização e transformação de pedras para o seu próprio

benefício, como a confecção de lanças e outros utensílios para a caça. Apesar dos vários séculos que separam o homem moderno dos tempos dos homens primitivos, há ainda hoje atividades que são desenvolvidas com prováveis requisitos semelhantes a estas duas eras da História da humanidade (MOULIN et al., 2000). A atividade desenvolvida pelos marmoristas é uma destas, pois se exige comumente: robustez física, força, e o convívio com ambientes muitas vezes pouco salubres.

A ergonomia, uma ciência moderna, objetiva adaptar as características psicofisiológicas dos trabalhadores aos condicionantes do sistema de trabalho. Sendo assim, a ergonomia é considerada também uma ciência prática, pois buscar reduzir os constrangimentos que podem sobrevir às interações entre trabalho e o homem, trabalho este que esteja em desacordo com as potencialidades e as limitações do homem. O presente artigo trata-se de uma AET – Análise Ergonômica do Trabalho da função de marmorista numa marmoraria localizada na cidade de Joinville – SC. As etapas de investigação do trabalho preconizadas neste trabalho foram: análise da demanda, análise da tarefa, análise da atividade, diagnóstico ergonômico e recomendações ergonômicas.

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

A ergonomia é definida “como o conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao homem e necessário para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos, bem como o projeto do trabalho, que possam ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e eficácia (Wisner, 1992). Segundo esta definição a ergonomia considera que o trabalho deve ser adaptado às características do trabalhador. Para que isso ocorra é necessário estudar o mundo do trabalho, ou seja, compreender como as atividades são executadas, as posturas assumidas pelos trabalhadores, as exigências da tarefa, as competências dos trabalhadores entre outros fatores, desta forma, podendo intervir para se alcançar os objetivos propostos por esta ciência. Para tal, foi desenvolvido a Análise Ergonômica do Trabalho, um método criado na França na década de 70 que busca analisar o trabalho a partir de uma metodologia padrão: análise da demanda, análise da tarefa, análise da atividade, diagnóstico e recomendações ergonômicas (SANTOS e FIALHO, 1997).

A MARMORARIA

A Marmoraria é a terceira etapa da industrialização do mineral granito ou mármore, também chamada de beneficiamento. É constituída pelos setores de polimento, corte, acabamento e montagem (MOULIN et al, 2000). O ramo de atividade das marmorarias é classificado como Indústria e Comércio de Artefatos de Mármore e Granito, pertencendo ao setor secundário da economia. Os principais produtos ofertados são as pias e bancadas para banheiros e cozinhas, tampos de mesas, rodapés, pisos, soleiras etc (SEBRAE, 1999).

Segundo o SINDIROCHAS (2002), os principais estados brasileiros a desenvolverem atividades com minerais não-metálicos, destaca-se o Espírito Santo (maior produtor de mármores e similares), Minas Gerais, Bahia e São Paulo. Seguidos pelos estados do Ceará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina e Goiás (MELLO, 2000). No Brasil existem cerca de 7.000 empresas responsáveis pelo beneficiamento final de mármores em granitos, ou seja, marmorarias (CHIODI, 2003). A marmoraria pesquisada para a confecção deste trabalho possui15 funcionários em diferentes cargos: gerente, auxiliar administrativo, vendedor externo, marmorista, polidor, colocador, cortador e auxiliar de produção, sendo que destes, três são marmoristas, confirmando o levantamento realizado por Mello et

al. (2004), que constatou que a maioria das marmorarias do Brasil possuem em geral, 5 a 15 funcionários.

A marmoraria pesquisada é uma empresa constituída formalmente com características de gestão familiar. O atual gerente faz parte da segunda geração de gestores na empresa, a qual possui 20 anos de existência. Atua no beneficiamento de mármores e granitos, como ênfase em pias, pisos, churrasqueiras e balcões. Nos últimos 12 anos desenvolve suas atividades num local alugado. Este fato é importante quando avaliarmos a adequação do espaço físico para o desenvolvimento das atividades dos trabalhadores (este fator será discutido posteriormente).

Possui características semelhantes à maioria das marmorarias situadas na cidade de Joinville. Possui, entretanto, uma peculiaridade interessante: recebe espontaneamente pesquisadores do CEREST – Centro de Referência de Saúde do Trabalhador, esporadicamente da Fundacentro e de outros órgãos e pesquisadores. Além disso, foi a primeira empresa a se adequar ao beneficiamento de mármores e granitos em processos úmidos de trabalho, antes mesmo da lei municipal referente ao assunto ter sido sancionada.

A silicose é uma doença associada à exposição de sílica cristalina (dióxido de silício– SiO2), que forma cicatrizes permanentes nos pulmões provocados pela inalação do pó resultante da produção de materiais que contenham este composto. É uma doença pulmonar incurável que pode ser fatal, porém pode ser prevenida.

No Brasil, em 1978, estimou-se a existência de aproximadamente 30.000 portadores de silicose (BRASIL, 1978). No período entre 1999 e 2000 foi realizado estudo de exposição à sílica no Brasil segundo as atividades econômicas. Dos resultados observa-se que a maior prevalência de exposição foi observada na construção civil com 62% de expostos; extração mineral 61%; indústria de minerais não metálicos (cerâmica, vidro, cimento) 55% e metalúrgica com 23% de expostos. A agricultura apresentou 69% de trabalhadores expostos entre 1% e 30% da jornada de trabalho. Estes setores, todavia, não concentram o maior número percentual de trabalhadores ocupados (RIBEIRO et al., 2003).

METODOLOGIA

Foram realizadas 08 visitas na marmoraria durante os meses de junho a agosto de 2007. Estas visitas serviram como etapas de aproximação aos conhecimentos e variáveis necessárias para se realizar a proposta deste trabalho.

Nas primeiras visitas foram realizadas a observação participante que, segundo Becker (1997), consiste em observar as pessoas e situações a que se está estudando. As visitas iniciais foram os primeiros contatos entre o gerente da empresa e o pesquisador. Buscou-se solicitar a permissão para se realizar a pesquisa, explicar sobre seus propósitos, métodos, resultados e benefícios. Em seguida, as visitas visaram a interação com os trabalhadores para se criar uma relação de confiança entre eles e o pesquisador.

Para levantamento e coleta de dados foram utilizados os dados registrados no PPRA– Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, como iluminamento, níveis de pressão sonora, temperatura efetiva. Foram registradas fotografias do ambiente de trabalho e durante a execução das atividades dos marmoristas. Estas fotografias serviram como auxílio na análise postural, de esforço físico de trabalho, e de outros

aspectos importantes da AET. Foram utilizadas as seguintes ferramentas ergonômicas:

• OWAS• RULA

As etapas da pesquisa consistiram de: Análise da demanda, análise da tarefa, análise da atividade, diagnóstico ergonômico e recomendações ergonômicas. Cada uma desta será discutida neste relatório final.

ANÁLISE DA DEMANDA

Esta AET foi de demanda acadêmica, ou seja, foi um dos requisitos para conclusão do módulo de Análise Ergonômica do Trabalho do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/Ergonomia da UFSC. Desta maneira, para realizar este trabalho, inicialmente procuramos o Centro de Referência de Saúde ao Trabalhador– CEREST da cidade de Joinville – SC. O objetivo daquela visita foi receber uma sugestão de um local para se realizar esta pesquisa. Nesta ocasião o Enfermeiro do Trabalho da referida entidade municipal nos indicou um local onde se há vários riscos em saúde e segurança ocupacional é uma marmoraria – desta forma, a sugestão havia sido dada. Procurou-se saber por que o CEREST indicou uma marmoraria para se realizar a AET. Descobriu-se então que esta entidade municipal realizou uma série de fiscalizações em marmorarias de Joinville e região para se evitar o beneficiamento de mármores e granitos a seco, pois conforme legislação municipal (lei 3414/97, 07/93), estadual e nacional todos os processos de corte e/ou modelagem deveriam e devem ser a úmido para se evitar a doença profissional, a silicose1.

Neste programa desenvolvido em Joinville - SC, sendo intitulado de: “Projeto Silicose no Município de Joinville”, foram avaliados 173 trabalhadores em indústrias de jateamento de areia e de beneficiamento de mármores e granitos.

Além da demanda municipal, a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO também possui um programa de combate à silicose. Este programa chama-se “Programa Nacional de Eliminação da Silicose - PNES”. Os objetivos do PNES são reduzir significativamente a incidência de silicose por volta de 2015 e eliminar a silicose, como problema de saúde pública, por volta de 2030 (FUNDACENTRO, 2004). Existem outras entidades internacionais como a OSHA, OIT e também legislações de países em todo o mundo que restringem ou proíbem que processos produtivos de trabalho gerem o pó de sílica cristalina (SiO2) (NIOSH, 2002; OSHA, 1989). Estes programas desenvolvidos no Brasil e no mundo demonstram a importância de se combater atividades contribuam para o aumento dos índices desta doença profissional.

Ao analisarmos possíveis demandas da empresa, foi constatado preliminarmente que havia queixas esporádicas de desconfortos em coluna vertebral. Segundo o gerente da empresa este fato havia ocorrido há alguns meses enquanto os marmoristas descarregavam chapas de mármores provenientes de fornecedores da matéria-prima. Nesta ocasião o gerente mencionou que o motivo do distúrbio foram brincadeiras entre os trabalhadores ocorridas durante a execução desta atividade, gerando falta de atenção e descuido ao manusear as chapas, que possuem

dimensões em torno de 2,80 por 1,65 m, em geral com espessura de 2 cm e peso aproximado de 60 kg/m2 (cada chapa de mármore pesa em média 240 kg).

Não fez parte do objetivo deste trabalho realizar uma análise quantitativa das substâncias e/ou partículas químicas dispersas no ar do local de trabalho. Além disso, não foram feitas análise quantitativas do iluminamento, ruído e temperatura ambiental, entretanto, fizemos uso do PPRA da empresa para análise e tratamento das informações de análise ambiental ali presentes.

ANÁLISE DA TAREFA

A tarefa é considerada pelos ergonomistas como as prescrições ou as normas de trabalho, ou seja, o trabalho prescrito a ser realizado. A marmoraria pesquisada possui 03 marmoristas, sendo que a empresa exige geralmente experiência anterior. A jornada de trabalho é de 44 horas semanais de segunda a sexta-feira.

Um marmorista deve ser paciente para realizar o trabalho com esmero, dando-se atenção ao acabamento e aos detalhes, a qualidade da peça modelada, etc. sempre considerando às diretrizes da ordem de serviço, que são os projetos (desenhos) feitos pela equipe de vendas mediante solicitação do cliente. Estes projetos são entregues aos marmoristas e servem de informação para a realização das atividades de trabalho, pois possuem os informes das dimensões, formas ou medidas, as instruções sobre as características do material a ser utilizado, bem como todos os outros detalhes do produto que será beneficiado na marmoraria. Além disso, no projeto devem constar detalhes sobre o espaço físico que receberá o mármore ou granito. Algumas destas informações podem ser: a localização de soleiras, janelas, pisos, banheiros e cozinhas. Estas informações são necessárias para que o produto beneficiado nas marmorarias fique em harmonia com as outras características do ambiente construído.

As marmorarias recebem a sua matéria prima em chapas, com um de seus lados pré-polidos. Este material provém das indústrias extrativistas localizadas principalmente na região sudeste do Brasil. Ao receber este material as marmorarias realizam um primeiro corte bruto na chapa, de acordo com as dimensões pré-definidas no projeto do cliente, e em seguida o marmorista realiza a transformação fina (acabamento). Nesta etapa o trabalho está pré-pronto. A próxima etapa é o polimento, sendo que em seguida a peça retorna ao marmorista que realizou a etapa anterior para que nesta ocasião seja feita o acabamento final (limpeza e secagem).

Fig. 01 – Fluxograma das tarefas de acordo com os profissionais

Os marmoristas realizam a maior parte do acabamento nas peças, pois realizam todas as transformações do material, com exceção do corte bruto e do polimento. Dentre as tarefas mais comuns dos marmoristas destacam-se: arredondar e/ou

chanfrar os contornos e bordas do mármore, colar e impermeabilizar. A colagem ocorre em casos de projetos que requerem cubas ou pias, ou ainda junção de duas ou mais chapas. A impermeabilização ocorre em todas as peças beneficiadas. Para realização das tarefas os marmoristas fazem uso dos seguintes materiais: massa plástica, silicone, silicone cola - PU (poliuretano), corante, cera, catalisador, solvente e álcool líquido. Cada um destes materiais é usado com objetivos específicos, da seguinte maneira: A massa plástica é para junção de duas peças de mármores ou cerâmica, sendo que o silicone serve para contenção da umidade, a cera para impermeabilização das peças beneficiadas. O catalisador acelera o processo de secagem da massa, o solvente é usado nos casos em que a massa acrílica apresenta-se endurecida e o álcool é usado para queima da peça (mármore) com o objetivo de secá-la para posterior colagem de elementos.

A ferramenta utilizada pelos marmoristas são as lixadeiras elétricas pneumáticas, do tipo roto-angular, conforme fotografia a seguir:

Fig. 02 – Ferramenta mais comum de uso dos marmoristas

Para execução do trabalho também são necessários acessórios e outros equipamentos, como: fixadores, proteção contra respingos d’água, discos diamantados, lixas, rebolo, disco flexível, ar comprimido.

Os equipamentos de proteção individual utilizados pelos marmoristas na ocasião da pesquisa foram: protetor auditivo, calçados de segurança impermeáveis, vestimentas de segurança para proteção do tronco e mmii contra umidade, luvas de proteção contra umidade, luvas de proteção contra cortes.

Segundo Santos (2005) as situações de trabalho encontradas nas marmorarias do Brasil são semelhantes. Essas informações foram corroboradas por outros estudos, que apontam sistemas produtivos similares, resultando numa equivalência em termos da tecnologia utilizada para o corte e polimento das peças, e condições similares de trabalho e formas de organização (TAVARES, 2000; SES, 2001).

O ESPAÇO FÍSICO

A área construída era composta de um galpão coberto com telhas tipo “Eternite”, o piso era de concreto. Estas características são as mesmas encontradas num estudo realizado por Cunha (2006). Neste estudo o autor verificou que as maiorias das marmorarias da região de São Paulo possuíam características semelhantes em relação ao ambiente construído: galpões de alvenaria, paredes de blocos, telhado tipo fibro-cimento etc. As áreas de trabalho da marmoraria de Joinville também possuíam características semelhantes àquelas encontradas por Cunha (2006), pois ambas eram compostas por bancadas, sendo que estas eram usadas para o trabalho com peças pequenas, (por exemplo, na fabricação de bases para troféus ou acessórios para pias) e a maior área era aberta. Para a maioria dos trabalhos de beneficiamento dos mármores e granitos os marmoristas arrumavam cavaletes (todos com 85 cm de altura) e colocavam as chapas de mármores em cima destes

cavaletes, realizando suas atividades posteriormente. Não havia, portanto, a possibilidade de ajustes do plano de altura para execução das atividades dos marmoristas.

Fig. 03 – Trabalho em bancada fixa

.

E s c r i t ó r i o

Depósito

Sala Social

Fig 04 – Vista geral do ambiente físico

Fig 05 – Layout da marmoraria

E s t a c i o n a m e n t o

Text Box: Corte

Mármores

P o l i d o r e s

Mármores

M a r m o r i s t a s

ANÁLISE DA ATIVIDADE

Interessante informar que as chapas são descarregadas dos caminhões pelos trabalhadores da área operacional, incluindo os marmoristas. Para tal tarefa são necessários de 3 a 6 funcionários, os quais deslocam as chapas até o local de armazenamento em pequenos suportes de ferro. Estes suportes são móveis, pois possuem pneus do tipo semelhante aos pneus de carrinhos de mão. A empresa não possui pontes rolantes.

Para iniciar a análise da atividade optamos por dividí-la em 4 categorias:

• Modelar;• Colar;• Impermeabilizar e Secar;• Modelar (2ª vez).

Descreveremos quais os processos cognitivos e atitudinais que são executados na realização da fase de modelar:

Ao receber um novo pedido do cliente proveniente do projeto, os marmoristas precisam selecionar quais as ferramentas e os acessórios precisarão usar. Para isso eles verificam se as ferramentas estão disponíveis e se estão prontas para o uso. Na maioria das vezes houve a necessidades de troca dos acessórios que são acoplados nas lixadeiras pneumáticas (i.e.: troca de lixas, colocação de rebolo etc.), além disso, os marmoristas separaram os materiais que iriam precisar para executar a atividade de modelagem. Algumas vezes vou observado que durante a separação dos utensílios necessários para a modelagem os marmoristas consultavam novamente o projeto, provavelmente para relembrar as características da peça a ser modelada.

Outra observação feita por nós foi da solicitação de ajuda que ocorria entre os marmoristas quando havia a necessidade de deslocamento de chapas de mármores pesadas. Então um dos processos cognitivos dos marmoristas foi o de chamar um companheiro para ajudá-lo no carregamento da peça. Verificou-se que não havia uma regra para tal. Mas havia sim uma seleção de possíveis colegas de trabalho para realizar este auxílio. A escolha geralmente era feita levando em consideração alguns aspectos como: escolha de colega que estava com pouco serviço, colegas que deviam favores aos solicitantes, colegas que estavam mais próximos.

Apesar de a empresa fornecer os Equipamentos de Proteção Individual – EPI, os marmoristas não o usavam durante todas as atividades as quais seu uso era necessário. Foi observado que os marmoristas previam a operação que iriam realizar e de acordo com os possíveis constrangimentos da operação, tomavam a decisão de usar ou não os EPI. Este comportamento foi observado principalmente quando as operações geravam contato físico dos marmoristas com a água proveniente da atividade realizada e do ângulo de operação entre a ferramenta pneumática e o mármore. Quando isso ocorria o marmorista vestia-se com um avental impermeável (roupa de proteção contra umidade) e improvisava com um pedaço de madeira uma barreira contra estes respingos. Destacamos ainda que os marmoristas não faziam uso de luvas contra cortes e/ou umidade em nenhuma das observações realizadas.

Fig. 06 Marmorista usando proteção contra umidade e barreira de madeira improvisada.

Observamos que os marmoristas ligavam as lâmpadas por volta das 17 horas. Isto ocorreu momentos antes de atividades que requeriam acuidade visual alta, por se tratar de acabamentos. Provavelmente os marmoristas percebiam que o ambiente requeria uma luminosidade maior para realizar seu trabalho com qualidade.

Os principais processos atitudinais e cognitivos do processo de colar se referiam principalmente aos detalhes do projeto. Isto foi constatado pelas constantes consultas ao projeto de trabalho (desenho) que os marmoristas fizeram. Como o processo de colar requeria conhecimento dos detalhes da peça provavelmente os marmoristas necessitaram relembrar o projeto para não cometer erros durante a colagem. Além disso, nesta etapa as peças vinham do polidor que tinha a responsabilidade de dar brilho a peça. Entretanto, para realizar esta atividade era necessário executar esta atividade a úmido. Por isso, o marmorista ao receber a peça precisava secá-la. Este procedimento era realizado jogando-se álcool em cima da peça e em seguida ateando fogo. Um procedimento de alto risco de acidentes.

Um processo cognitivo importante nesta atividade de colagem é a escolha e a combinação dos corantes que devem fazer parte do material necessário para que não haja discrepâncias nas junções coladas. Exemplificando, um mármore de cor verde provavelmente deverá receber um cola de cor esverdeada. Como os marmoristas apenas dispõe das cores preta, amarela e marrom, há necessidade de grande demanda cognitiva para que as misturas cheguem na coloração desejada. Ao se realizar uma entrevista com os marmoristas, os mesmos relataram que

conseguem colorir de diferentes maneiras a cola plástica. Um dos marmoristas relatou que consegue colorir até de rosa a cola a ser usada nos mármores. Ele relatou que com a experiência consegue realizar este feito.

Algumas vezes a massa plástica estava endurecida. Os marmoristas analisaram este fato e ao constatarem o fato adicionavam solvente a mesma para amolecê-la, facilitando seu trabalho. Ressaltamos que os marmoristas manipulam vários produtos químicos, entretanto, em nenhum momento foi observado o uso de luvas de proteção contra estes riscos químicos.

Os principais processos de impermeabilizar e secar são:

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ATIVIDADE

Uma das características mais marcantes na atividade realizada pelos marmoristas é a alta autonomia de trabalho. Há grande variabilidade dos ritmos de produção do layout de trabalho, do modo operatório, das posturas adotadas pelos trabalhadores, do produto, do ambiente de trabalho, da organização do trabalho.

O ritmo de trabalho dependia principalmente da natureza do pedido. Alguns pedidos eram priorizados em detrimento de outros de acordo com a demanda do cliente. Então não existia uma “fila” de pedidos. Isso fazia com que os marmoristas elaborassem estratégias próprias para regular o seu ritmo de trabalho. Alguns pedidos eram entregues no dia seguinte enquanto outros demoravam 02 semanas. Salientamos que para tal, não existia uma regra de trabalho documental.

A área onde é desenvolvida a atividade não possui layout pré-determinado, ou seja, de acordo com as dimensões da peça e o tipo de atividade que será desenvolvida o layout é organizado pelo próprio marmorista através do uso da bancada para serviços com peças menores e o uso de cavaletes quando a peça é maior e alocada sobre estes mesmos cavaletes, os quais têm 85 cm de altura. O layout para realização das atividades era modificado constantemente de acordo com as características das peças. Esta modificação era facilmente realizada mudando-se os cavaletes existentes na área de trabalho dos marmoristas.

Fig.07 - Exemplo de mudança de layout

Há variabilidade produtiva pelas alternativas disponíveis para execução das atividades, como mudanças dos modos operatórios, vários tipos de operações, materiais e estratégias de produção. Com isso, muda-se também o ritmo de trabalho, visto que não há imposição de líderes quanto aos prazos de entrega dos produtos aos clientes. Este fato foi observado durante uma das visitas para levantamento dos dados. Verificou-se que um arquiteto solicitou pessoalmente a um dos marmoristas a entrega de uma pia para o dia seguinte. Neste momento houve a negativa do marmorista, referindo-se a impossibilidade de entregar o trabalho com a qualidade. É interessante analisarmos este fato com mais detalhe. Os marmoristas são os profissionais mais bem remunerados dentre os colegas da produção (polidores, cortadores, montador). Conversam diretamente com arquitetos, o pessoal do escritório, o próprio gerente. Há ocasiões em que os marmoristas esclarecem alguns aspectos técnicos dos produtos, negociam valores e estabelecem prazos de entrega. Isto tudo foi observado durante o levantamento de dados. Notou-se certo status para este tipo de profissional.

O ambiente de trabalho mudava de acordo com o ambiente e o clima externo. Como a área de trabalho é aberta, por se tratar de um galpão, os trabalhadores não têm condições de regular o ambiente físico de trabalho. Além disso, havia a necessidade dos marmoristas deslocarem-se por áreas abertas para pegar materiais e produtos inacabados (chapas de mármore).

Não há troca de peças entre os marmoristas, ou seja, ao iniciar um serviço o marmorista assume a produção da peça respondendo, portanto pela qualidade do serviço. Um dos marmoristas declarou:

- “Quando temos um pedido a responsabilidade é nossa”.

O tipo de trabalho exercido favorece a autonomia, pois foi verificado que os marmoristas possuem boas condições de organizar seu próprio trabalho. Além disso, a atividade é enriquecida com o planejamento diário das atividades, ritmo de produção, layout não fixo, ciclo de trabalho não rígido. Durante o levantamento de

dados para esta pesquisa foi observado um marmorista informando ao pessoal do escritório o valor de um serviço a ser repassado ao cliente. Isso demonstra que além de realizarem o beneficiamento dos mármores, os marmoristas também fazem parte da equipe que decide valores de serviços realizados por eles mesmos.

Não há uma fiscalização ou acompanhamento por parte da administração ou gerencia das atividades desenvolvidas pelos marmoristas. Talvez este fosse um dos motivos que fazem com que os trabalhadores do setor produtivo brincassem durante as atividades de trabalho. Isso por si só não é algo ruim, entretanto, as brincadeiras eram constantes e provavelmente para alguns poderia ser chamada de assédio moral e não brincadeiras. Isso foi observado durante as visitas à marmoraria. Em que dois ou mais trabalhadores assediavam um trabalhador específico, geralmente àquele mais jovem, que era o ajudante do cortador. Este mesmo rapaz recebia dez reais de cada trabalhador da produção para que ele limpasse o local de trabalho no fim de cada turno.

Foi verificado que o trabalhador realiza vários deslocamentos em busca dos materiais necessários para realizar suas atividades. Um exemplo desse fato foram as consultas constantes que os trabalhadores realizavam para consultar o projeto de serviço. Como este projeto não possuía proteção contra umidade e não havia um local pré-estabelecido para que estes projetos fossem alocados, os trabalhadores realizavam vários deslocamentos para consultá-lo. Calculando-se o tempo de todos os três marmoristas, em média o gasto somente com deslocamentos somava-se quatro horas/mês.

Para elaboração deste trabalho solicitamos aos marmoristas responderem um questionário – o Questionário Renault. Dentre as queixas relatadas no questionário, destacamos:

Marmorista 01 Marmorista 02 Marmorista 03

Desagradável trabalhar no verão;

Trabalhar seguidamente na posição de pé; Trabalho físico pesado e um pouco fatigante; Dores na região das costas/lombar (+2x/semana).

Trabalho um pouco cansativo;

Ambiente térmico desagradável no inverno;

A postura mais cansativa/penosa que adota para trabalhar é “em pé torto” (desconfortável);

Quanto à carga física otrabalho é pesado;

Dores nos punhos (+2x/semana).

Utilizamos como ferramenta de análise ergonômica o RULA e o OWAS, sendo que obtivemos os seguintes resultados:

• RULA – 07 – Alto risco• OWAS 04 – Necessário correção imediata

Estes valores foram obtidos na postura de cócoras e de pé com flexão e inclinação de tronco. Estas posturas foram observadas constantemente durante as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores.

Existem alguns outros fatores que afetam a atividade. Um desses fatores é o tipo de material beneficiado pelos marmoristas. Existem por exemplo mármores “moles”

e mármores “duros”. Os mármores “duros” são mais fáceis de desbastar do que os mármores “duros”. Esta diferença de materiais acaba por afetar a ação dos marmoristas, como: força física de aplicação dos equipamentos, tempo de ciclo de trabalho, tempo de manutenção postural, sobrecarga articular etc.

A empresa pesquisada realiza a maioria das suas atividades com uma ferramenta de trabalho desenvolvida especialmente para o trabalho dos marmoristas. O diferencial deste equipamento é o cabo único. Os equipamentos convencionais (lixadeiras pneumáticas convencionais) possuem 02 cabos, um cabo responsável pelo fornecimento da água e outro pelo envio de ar comprimido à ferramenta. O diferencial da lixadeira pneumática usada pelos marmoristas é o cabo único que fornece a água e o ar comprimido simultaneamente. Esta é uma grande vantagem, pois como o trabalho exige mudanças constantes dos pontos de aplicação, uma ferramenta com um único cabo aumenta a autonomia do trabalhador, facilitando os deslocamentos.

Fig. 08 – Ferramenta com cabo único

DIAGNÓSTICO E RECOMENDAÇÕES ERGONÔMICAS

A atividade dos marmoristas envolve risco de doenças e/ou acidentes de trabalho, os quais são inerentes a natureza do trabalho realizado. Apesar de praticamente todas as atividades serem realizadas a úmido, ainda assim há riscos de cortes, esmagamentos, quedas de objetos, dermatoses ocupacionais, e silicose. Há risco de silicose porque em pequenos desbastamentos e cortes não planejados o processo nem sempre é a úmido. Durante as nossas observações não foi constatado este fato, entretanto, os próprios marmoristas nos informaram esta situação.

Estão presentes nas marmorarias os riscos devidos à manipulação de produtos tóxicos ou irritantes: catalisadores, massas plásticas, solventes, resinas e ceras. Os problemas de ordem ergonômica são decorrentes do levantamento e deslocamento manual de cargas, das posturas e lesões músculo-esqueléticas. Os riscos de acidentes do trabalho são agravados pela presença de maquinas e equipamentos sem proteção adequada principalmente nas partes móveis, pela improvisação e precariedade das instalações e ferramentas, com destaque aos arranjos físicos inadequados e instalações elétricas deficientes, resultando na possibilidade de

choque elétrico e lesões traumáticas. Este diagnóstico também foi semelhante à pesquisa realizada por Moreira et al. (2003).

Fig. 09 – Riscos de acidentes

Há um excelente relacionamento entre os trabalhadores. Uma das razões prováveis deste fato é que os próprios trabalhadores selecionam os candidatos para emprego na marmoraria. Um dos marmoristas declarou:

“- Aqui passarinho ruim não se cria!”

Esta verbalização significa que qualquer pessoa que entrar no grupo de trabalho já existente lá deverá seguir as ‘regras’ impostas pelos próprios trabalhadores. Estas regras podem ser sinônimas de se adaptar ao comportamento social (simplicidade das pessoas, facilidade de relacionamento, bom humor, aceitar as brincadeiras etc).

Verificamos o quanto os marmoristas se sentem realizados profissionalmente. Além do bom humor constante durante a execução das atividades, o companheirismo e outros aspectos atitudinais, todos os marmoristas relataram que se sentem felizes em estar lá. O marmorista que está menos tempo na empresa possui 10 anos de tempo de trabalho nesta marmoraria. Um dos marmoristas declarou:

- “Só saio daqui quando me aposentar.”

A autonomia é um fato marcante observado nas atividades dos marmoristas. Esta autonomia é resultado do enriquecimento do trabalho destes profissionais. Além de realizarem as transformações nas peças, há também as responsabilidades de negociar valores e prazos de entrega das peças. Além disso, a jornada de trabalho não é totalmente fixa. Por exemplo, nas sextas-feiras todos os trabalhadores costumam sair 2 a 3 horas do horário normal de trabalho, isso é ainda mais evidente quando a semana é de pagamento.

A variabilidade do trabalho é um aspecto inerente da natureza do trabalho. Não há um dia de trabalho igual ao outro. Depende do tipo de projeto, como: tamanho da peça, acabamentos, tipo de material, detalhes específicos do produto. Como os próprios marmoristas destacaram, este tipo de trabalho é muito semelhante ao trabalho dos artistas plásticos, em que há ineditismos e originalidade, bem como dependem da técnica aplicada e das competências do autor da obra. Ressaltamos que há condições de se conhecer os autores das peças de mármores e granitos de acordo com as características da ‘obra’ ou produto final. Cada marmorista impõe e se expressa no resultado de seu trabalho.

As estratégias da equipe são constantes. Ajudas mútuas, determinação da prioridade de execução dos pedidos, ajustes dos ritmos de produção, improvisações na execução do trabalho, estratégias para limpeza diária do local de trabalho, são algumas das estratégias que os trabalhadores usam em seu trabalho. Verificamos que o fato dos marmoristas pagarem um colega de trabalho para executar a arrumação, organização e limpeza nos fins das jornadas de trabalho diárias fazem com que os próprios trabalhadores não se preocuparem com os cuidados preventivos para manter a organização dos locais de trabalho. Isto é agravado ainda mais pelas questões culturais da comunidade dos trabalhadores, por serem pessoas simples e de personalidade mais rústica, o que não contribui para um ambiente de trabalho organizado. Pelo contrário, favorece as improvisações, ou os “jeitinhos” na execução do trabalho.

Estudos realizados indicaram que nos processos de acabamento, a concentração ambiental de frações de poeira inalável e respirável reduzem-se de 93% em processos de beneficiamento de mármores a seco para 0,1% em processos a úmido (SANTOS, 2005).

Os sintomas de desconforto dos marmoristas confirmam os riscos de trabalho. Isso ocorre devido à natureza das atividades, as quais exigem a adoção de posturas assimétricas. E por que isto ocorre? Os cavaletes possuem altura de 85 cm, sendo uma altura baixa para trabalhos que exijam detalhes dos acabamentos. Como a maior parte do tempo os trabalhos exigem acabamentos com alta demanda de acuidade visual, a postura mais constante de trabalho é de pé, porém com o tronco em inclinação e flexão, estas duas posições combinadas.

Recomendamos que para as peças que demandem intensa acuidade visual os cavaletes devam ser preparados para que o plano de trabalho fique próximo do tórax dos marmoristas, evitando flexões acentuadas da coluna. Neste caso deve-se tomar cuidado para não se realizar levantamentos de cargas com alta sobrecarga aos membros superiores e coluna vertebral, criando critérios para avaliar se a peça deve ou não ser acondicionada neste plano de trabalho mais elevado. Avaliar por exemplo critérios de peso da peça, tipo de acabamento, tempo de processo, nível de qualidade exigido, dentre outros.

Recomendamos ainda a necessidade do desenvolvimento de uma iluminação suplementar para as atividades que exijam alta demanda de acuidade visual. Este iluminamento suplementar deverá estar entre 1.000 a 2.000 lux, conforme a NBR 5413 – Iluminação de Interiores.

Em relação aos instrumentos de trabalho recomendamos que se elabore um plano de gestão das ferramentas utilizadas, pesquisando sobre o tempo de vida útil das ferramentas para se evitar desperdícios, perdas ou uso de ferramentas que possam gerar acidentes, como por exemplo a serra mármore. Recomendamos que se pesquise uma ferramenta adequada para ser usada como barreira contra respingos d’água. Atualmente é utilizado um pedaço de madeira.

Os óculos de segurança devem ser de uso obrigatório. Não observamos a utilização deste EPI durante a execução das atividades de trabalho. Deve-se também usar luvas nitrílicas ao manusear produtos químicos, os quais são comuns os contatos com os marmoristas, pois todos podem causar dermatoses ocupacionais

Apesar dos marmoristas usarem um sapato de proteção contra umidade, recomendamos que este EPI seja adaptado também para prevenir esmagamentos, pois há risco de quedas de objetos. Portanto recomendamos o uso de sapatos de segurança com biqueira de aço.

Movimentacionais

Recomendamos que se crie facilidades de deslocamentos, evitando-se o bloqueio das passagens devido a má alocação dos materiais (cavaletes, máquinas, ferramentas, etc.). Este fato ocorre constantemente no local de trabalho, reduzindo a eficácia na execução das atividades e aumento o risco de tropeções e quedas dos funcionários.

Organizacionais

Alocar os projetos no campo de visão dos marmoristas. Foi constatado que durante a modelagem os marmoristas fazem em média 3 consultas ao projeto por peça modelada, sendo que cada consulta dura em média 10 segundos. Em 01 dia perde- se, portanto 12 minutos, levando-se em conta que são 03 marmoristas. Em 01 mês, 4 horas são perdidas. Considerando-se uma média de 8 peças beneficiadas por dia.

Padronização

Criar instruções de trabalho bem elaboradas para que aperfeiçoem a qualidade dos processos com conseqüente aumento da produtividade. O desenho ou projeto é um dos poucos documentos formais de serviço para os marmoristas. Como exemplos de instruções de trabalho, citamos:

• Padronização das misturas de cores para colagem;

• Obrigatoriedade do uso de todos os EPI’s;

• Requisitos mínimos de qualidade do produto;

• Requisitos de organização do ambiente;

• Normas internas de SSO (política/missão):

Não deve ser aceitável secar o mármore jogando-se álcool na pedra ainda pegando fogo, como ocorre atualmente. O risco de acidente grave é enorme.

Organização do Ambiente de Trabalho

Manter o ambiente de trabalho limpo e organizado. Primeiramente deve-se criar o hábito de não sujar, em seguida limpar o que está sujo, organizar o que está desorganizado e descartar o que não é usado, definindo áreas de segregação destes materiais. Uma sugestão é implantar o método de programa “5S”.

Choque Elétrico

Há riscos de choques elétricos, pois o piso sempre é molhado e constatamos que fios elétricos (extensão) ficam no piso. Recomendamos que não se permitam extensões, nem que as ferramentas sejam deixadas no solo. Para isso, sugere-se a contratação de um eletricista profissional para que o mesmo aumente o comprimento do fio desde sua origem na ferramenta até o comprimento final.

Sugerimos ainda a criação de suportes para acondicionar com segurança as ferramentas manuais energizadas.

Ar Comprimido

Planejar um dispositivo seguro para restringir o ar comprimido quando o mesmo não estiver em uso. Proibir o uso de ar comprimido para auto-limpeza. Este procedimento é prejudicial a saúde, pois há riscos de acidentes de trabalho.

Sinalização

Verificou-se que não há nenhuma sinalização de segurança no local de trabalho. Recomenda-se sinalizar o ambiente de trabalho com o objetivo de reduzir a incidência de atos inseguros e conseqüentemente reduzir a ocorrência de possíveis acidentes de trabalho.

Gestores

Orientar os trabalhadores sobre os assuntos referentes a SSO e ergonomia. Percebe-se um déficit no acompanhamento dos gestores nas atividades laborais produtivas. Este fato é constatado pelas brincadeiras em excesso entre os trabalhadores operacionais, como piadas, agarramentos, insinuações sobre a sexualidade dos colegas, chegando ao assédio moral. Entre outras atitudes não compatíveis com trabalhadores formais e especializados. As brincadeiras poderão ocasionar acidentes de trabalho graves.

Dificilmente os marmoristas terão a disciplina de acatar as recomendações de segurança se os gestores não derem o exemplo, apoiarem e cobrarem as mudanças, dando-lhes suporte constantemente. É uma questão cultural e por isso requer tempo e paciência para o sucesso. Além disso, uma mudança isolada não vai trazer efeito. As partes possuem relação com o todo, por isso as mudanças devem ser sistêmicas. Segurança e saúde no trabalho é uma questão cultural, uma questão de formação e informação, de entendimento e de valorização da vida. Recomenda-se que um programa de ergonomia seja implementado em conjunto com os outros programas correntes da empresa, como: PPRA, PCMSO, CIPA etc. incluindo como sugestão o “5S”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tecnologia mecânica utilizada na marmoraria pesquisada estava defasada. Segundo os gestores da empresa pesquisada há pouca variedade de equipamentos desenvolvidos especificamente para o beneficiamento de mármores e granitos e os que existem são caros para as empresas tradicionais. Além disso, o processo humano geralmente é mais importante do que o processo mecânico, pois não adianta a empresa dispor das melhores máquinas ou equipamentos se os trabalhadores não tiverem competências e habilidades para realizar suas atividades com qualidade.

Verificou-se que os marmoristas poderiam se beneficiar durante seu trabalho de uma organização de trabalho mais eficaz. Ou seja, há perda de tempo de produção devido a deslocamentos desnecessários, pois o ambiente não dispõe de um layout pré-definido ou com normas específicas de produção.

Há também riscos de acidentes de trabalho, como por exemplo, choque elétrico e quedas. Este fator é exacerbado pelas questões de organização dos materiais e equipamentos, os quais não são depositados ou alocados em locais específicos para tal. É comum encontrarmos matérias espalhados pelo chão e extensões com fios energizados expostos ao piso, o qual é úmido devido às características do processo de trabalho.

Muitas ações de trabalho apresentam uma postura desfavorável de execução devido à natureza da tarefa. Estes dados foram confirmados pela aplicação de algumas ferramentas de análise da postura. Entretanto, alguns fatores ambientais como a altura dos cavaletes e iluminação insuficiente contribuem para este quadro.

Também se verificou o excesso de liberdade dos trabalhadores. As brincadeiras em excesso, o não cumprimento de horários, a desorganização do ambiente de trabalho são exemplos desta liberdade não benéfica.

Há a necessidade de se implantar um sistema de gestão da Saúde e Segurança Ocupacional (SSO) na tentativa de se minimizar os riscos de acidentes e doenças ocupacionais, o uso de todos os EPI’s, e o aumento conseqüente da produtividade e qualidade dos produtos.

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