"Saber-como" em avaliação de risco

"Saber-como" em avaliação de risco

divendres, 31 octubre 2008

A designação em língua inglesa “know-how” é, hoje em dia, bastante utilizada, em particular quando pretendemos referir-nos à capacidade em aplicar um determinado conhecimento a uma situação concreta.

A tradução literal da primeira palavra do título deste editorial é propositada e tem como objectivo perceber que este termo apresenta duas facetas distintas, ou seja, por um lado diz respeito ao “saber”, como fonte de conhecimento, e por outro, ao “como”, que corresponde à aplicação desse conhecimento.

Ora esta introdução vem a respeito de um questionário, levado a cabo no âmbito de um projecto de investigação, e aplicado aos técnicos de Segurança e Higiene do Trabalho em Portugal. O objectivo deste questionário era o de caracterizar, genericamente, o know-how existente entre os técnicos relativamente ao tema da avaliação de risco em tarefas de Manipulação Manual de Cargas (MMC) e às práticas mais frequentemente adoptadas por estes.

Este questionário teve como destinatários todos os técnicos e técnicos superiores de SHT certificados. Tal significa que as respostas correspondem a profissionais com perfis de formação bastante distintos, sendo possível encontrar-se profissionais com formações de base em Engenharia, Ergonomia, Psicologia, Sociologia, entre outras.

Através dos resultados obtidos, que podem ser integralmente consultados no relatório do projecto (1), foi possível verificar que existe, entre os técnicos de prevenção, um conhecimento alargado sobre os métodos de avaliação de risco em tarefas de MMC, disponíveis na literatura técnico-científica, mas que também existe uma baixa taxa de aplicação destes métodos. Um outro resultado, que merece igual destaque, é o facto de se constatar que o carácter prático da aplicação do método específico, independentemente da percepção da fiabilidade deste, parece contribuir para uma maior utilização dessa mesma metodologia.

Mas se por um lado os técnicos parecem deter um bom conhecimento dos métodos (know), por outro, os resultados evidenciam que as principais dificuldades sentidas na aplicação dos métodos se devem, sobretudo, à dificuldade em seleccionar o método mais adequado à tarefa a avaliar, razão apontada em 26,3% das respostas, e à dificuldade de obtenção dos dados necessários para a aplicação do método, assim como de interpretação dessa mesma aplicação (how).

A grande maioria das respostas aponta para a insuficiente formação e/ou informação sobre a aplicação e interpretação dos métodos (39%). Por outras palavras, entre os técnicos de SHT existe ainda um desconhecimento muito significativo sobre como aplicar os métodos usados para avaliar o risco associado a tarefas de MMC. Este desconhecimento traduzir-se-á numa aplicação reduzida e, eventualmente, incorrecta dos mesmos.

Parece evidente que, por vezes, o “saber” e o “como” andam dissociados, pelo que é cada vez mais importante que se desenvolvam ferramentas/metodologias de análise de risco fiáveis e precisas, sem esquecer que a simples existência destas ferramentas, e do seu conhecimento pelos técnicos, não é, por si só, suficiente. Será necessário que se diminua o hiato existente entre o “saber” e o “como”, promovendo a aplicação prática das metodologias e desenvolvendo guias de aplicação que facilitem, de forma evidente, a sua aplicação.

Para finalizar, salienta-se que este, e outros temas, serão apresentados no Colóquio Internacional sobre Segurança e Higiene Ocupacionais – SHO 2009, que decorrerá em Guimarães (Portugal), nos dias 5 e 6 de Fevereiro de 2009.

Se você quiser acessar a versão em espanhol do editorial pressione aqui.

(1) Arezes, PM, Miguel, AS (2008) Avaliação de Risco em Tarefas de Manipulação Manual de Cargas. Relatório final do projecto nº 069APJ/06-ACT, Universidade do Minho, 97 pgs.

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